Manutenção

O CONCEITO GERAL DE MANUTENÇÃO

Manutenção da FASE ou , simplesmente “manutenção”, se refere a técnicas que permitem que o praticante permaneça na FASE, pelo máximo período de tempo possível. Sem o conhecimento das técnicas de manutenção, a duração da FASE será várias vezes mais curta do que poderia ser. As menores FASES duram apenas alguns segundos. Praticantes novatos geralmente temem não serem capazes de sair de uma FASE, o que não deve jamais ser uma preocupação, porque o verdadeiro desafio é ser capaz de manter o estado de FASE, que é facilmente perdido, a menos que técnicas de manutenção sejam utilizadas.

A manutenção da FASE consiste em três princípios básicos: resistir a um retorno espontâneo ao estado de vigília, resistir ao adormecimento, e resistir a uma falsa saída da FASE. Como regra geral, os dois primeiros problemas (voltar ao estado de vigília ou adormecer) são freqüentemente experimentados por iniciantes, mas a terceira dificuldade (saída falsa) se manifesta em etapas posteriores da prática.

A resistência para retornar ao corpo é auto-explicativa, enquanto que a resistência em adormecer não é clara para muitos. Nem todo mundo sabe que quase a metade das experiências de FASE, geralmente terminam de uma forma bastante trivial, o adormecimento. O praticante geralmente perde a atenção, a consciência dele ou dela se dissipa, e tudo ao redor gradualmente perde clareza e se transforma em o que é, para todos os efeitos, um sonho costumeiro.

Resistir a uma falsa saída da FASE é muito mais surpreendente e dramático. Às vezes, o praticante detecta uma saída iminente da FASE; subseqüentes técnicas de aprofundamento deixam de funcionar, resultando no que parece ser um retorno para o corpo e para uma realidade física. Nesses casos, o adormecimento, na maioria das vezes, acontece sem nenhum movimento, enquanto ainda estava deitado na cama. O problema é que a diferença entre a FASE e a realidade pode ser tão sutil que, em termos de indicadores internos ou externos, a FASE praticamente não pode ser distinguida da realidade. Portanto, é preciso conhecer as ações necessárias a se tomar no caso de que a FASE cesse, mesmo porque, o fim de uma FASE realmente pode ser um truque; fruto de pura imaginação.

Existem soluções específicas para os três problemas descritos, além de regras gerais que se aplicam a qualquer experiência de FASE. Ao estudo dessas regras deve ser dado uma prioridade tão elevada quanto para o estudo das soluções específicas, uma vez que, apenas algumas delas, quando aplicadas isoladamente, podem ajudar o praticante a permanecer na FASE uma quantidade de tempo várias vezes maior que o normal.

Em alguns casos, as técnicas para a manutenção não são aplicáveis. Contudo, o conhecimento sobre a manutenção é útil para a maioria das experiências. Além disso, pode haver situações em que alguém só precisa resistir a um retorno espontâneo, enquanto outra pessoa pode precisar resistir ao adormecimento. Tudo isso é muito específico para cada caso e pode ser determinado apenas durante a prática.

Com perfeito conhecimento de todas as técnicas para a manutenção, uma FASE pode durar de 2 a 4 minutos, o que, a princípio pode não soar como um período prolongado, mas realmente é. Uma particularidade do espaço da FASE é que, para alcançar alguma coisa ou para se mover, é requerida uma quantidade mínima de tempo, meros segundos. Dessa forma, tantas coisas podem ser feitas durante 3 minutos na FASE que, literalmente, se faz necessário a confecção de uma lista, de modo que não haja perda de tempo.

Existem teorias que nunca foram comprovadas, nem refutadas, alegando que o tempo nos estados de FASE se contrai e se expande em relação ao tempo real. Por exemplo: um minuto de tempo real poderia parecer muito mais, ao ser comparado com a mesma quantidade de tempo na FASE.

A percepção do tempo varia de praticante para praticante. Especialmente os novatos percebem um minuto de tempo real como 5 a 10 minutos na FASE. Isto é determinado pelas particularidades da psicologia individual, o estado mental do praticante, e os tipo de eventos que ocorrem na FASE.

Para compreender qual é a duração de uma FASE, não é preciso tentar usar um cronômetro no mundo real. É melhor contar quantas ações aconteceram na FASE e depois calcular a quantidade de tempo que seria necessário para realizar as mesmas ações no mundo real. O resultado será quase sempre diferente de uma estimativa preliminar.

A duração máxima da FASE depende grandemente da capacidade do praticante em aplicar as técnicas de manutenção. Alguns praticantes têm dificuldade em quebrar a barreira de dois minutos, enquanto alguns acham que é fácil manter-se na FASE por 10 minutos ou mais. É fisicamente impossível permanecer na FASE para sempre, mesmo porque, até mesmo uma FASE com 20 minutos de duração, é inédito.

TÉCNICAS E REGRAS CONTRA O RETORNO AO CORPO

A amplificação sensorial constante e a amplificação sensorial conforme a necessidade, são aplicadas, com mais freqüência, durante a execução da manutenção de uma FASE. No entanto, ao contrário de outros elementos técnicos de exploração da FASE, outras técnicas secundárias de manutenção, muitas vezes, se tornam as mais adequadas para certos indivíduos. Assim, todas as técnicas devem ser estudadas, mas as duas primeiras devem ser consideradas com muito cuidado.

Ampliação Sensorial Constante

As mesmas técnicas de amplificação sensorial descritas no capítulo sobre o aprofundamento (Capítulo 6), também se aplicam à manutenção. Em essência, tendo atingido a profundidade necessária da FASE, não se deve parar de excitar ativamente sua percepção, ao contrário, deve continuar fazendo isso o tempo todo, embora não tão ativamente como durante o aprofundamento.

A idéia é que, durante toda a duração da FASE, toda a ação deve ser focada em experimentar o máximo possível de percepções tátil e visual. Isto implica em tocar e examinar constantemente tudo nos seus mínimos detalhes. Por exemplo: ao passar por uma estante de livros, tocar e analisar alguns dos livros, incluindo suas páginas e cantos. A observação tátil deve ser realizada em todos os objetos encontrados.

A palpação deve ser aplicada separadamente como uma sensação secundária. Isto deve ser realizado de forma que não sobrecarregue o sentido da visão. As mãos devem estar tocando alguma coisa o tempo todo, ou ainda melhor, esfregando uma na outra.

Amplificação Sensorial Conforme a Necessidade

A técnica de amplificação sensorial conforme a necessidade difere pouco da amplificação sensorial constante. Ela é usada apenas quando um retorno espontâneo ao estado de vigília é iminente, ou quando a visão começar a diluir-se e perder a clareza. Por exemplo: ao viajar na FASE, tudo pode começar a diluir-se, sinalizando um enfraquecimento da FASE. Nesse momento, o praticante deve tocar todos os objetos disponíveis e observar tudo em grande detalhe. Assim que houver o retorno a um estado claro e mais realista, as ações podem ser continuadas, sem a necessidade de realizar amplificação.

Vibração constante

Esta técnica é usada para manter constantes e fortes vibrações na FASE. Como observado anteriormente, as vibrações são geradas através do tensionamento do cérebro ou do corpo, sem o uso de músculos. A manutenção de fortes vibrações terão um efeito positivo sobre a duração da FASE.

Fortalecimento das vibrações conforme necessário

Neste caso, as vibrações são reforçadas apenas se os sinais de um retorno espontâneo se tornarem aparentes. Exemplos de indicadores de um retorno espontâneo incluem: dualidade de percepção e visão turva. O fortalecimento das vibrações ajudará a aprofundar a FASE, permitindo que o praticante continue dentro dela.

Mergulho de cabeça

Esta técnica de manutenção é a mesma técnica de aprofundamento que tem esse mesmo nome. Se uma FASE estiver prestes a se dissolver, mergulhe de cabeça com os olhos fechados, o mais rápido e profundamente possível. Assim que a profundidade da FASE retornar, técnicas de translocação devem ser utilizadas para evitar a chegada em um beco sem saída.

Adormecimento forçado

Assim que indicadores de um retorno espontâneo aparecerem, deite-se imediatamente no chão e faça uma tentativa de adormecimento forçado, a mesma técnica já descrita para a entrada na FASE. Após ter sucesso na realização da técnica (de 3 a 10 segundos), o praticante deve levantar-se e continuar a viajar pela FASE, já que a percepção da realidade e sua profundidade, provavelmente, terão sido restauradas. Resista cair no sono.

Rotação

Se os indicadores de um retorno espontâneo aparecerem, o praticante deve começar a girar em torno do eixo que vai da cabeça até os pés. Ao contrário da técnica de entrada na FASE que tem o mesmo nome, o movimento não deve que ser imaginado. Se trata de uma rotação absolutamente real na FASE. Depois de várias revoluções (rotações), a profundidade será restaurada e poderá ser dada continuidade às ações. Enquanto os indicadores de um retorno espontâneo persistirem, a rotação deverá continuar, até que a profundidade adequada seja alcançada.

Contar

Durante toda a FASE, contar até o número que for possível. O praticante não deve apenas contar por contar, deve-se ter também um forte desejo de alcançar o maior número possível. A contagem pode ser realizada em silêncio ou em voz alta.

Esta técnica funciona através da criação de uma forte determinação para permanecer na FASE, fornecendo um objetivo que requer uma ação na FASE.

Audição Interna

Se houver algum ruído de fundo, semelhante aos ouvidos quando se entra na FASE (zumbido, assobio, tilintar, dentre outros), esses sons devem ser usados para prolongar a duração da FASE, através de tentativas agressivas em ouvir toda a gama de sons.

Prender-se à FASE

Outro método interessante de manutenção é prender-se à FASE. No caso de um retorno espontâneo iminente, o praticante deve agarrar um objeto na FASE e apalpá-lo ou apertá-lo ativamente. Mesmo que um retorno ao corpo ocorra durante esta técnica, as mãos continuarão a manter a FASE e as mãos físicas não serão percebidas. Partindo-se desse sentimento de mão fantasma, torna-se possível a separação do corpo. Qualquer objeto próximo deve ser segurado: a perna de uma cadeira, um copo, uma maçaneta, uma pedra ou um pedaço de pau. Se não há nada que possa ser agarrado, aperte as mãos uma contra a outra ou morda o lábio ou a língua.

Duas regras se aplicam ao uso de técnicas que ajudam a resistir a uma saída da FASE. Primeiro, nunca pense que a FASE irá acabar, pois isso resultará em um retorno para o corpo. Pensamentos como este são como uma programação que envia imediatamente o praticante ao estado de vigília. Em segundo lugar, não pense sobre o corpo físico. Fazê-lo, sempre causará o imediato retorno para o corpo.

TÉCNICAS E REGRAS PARA RESISTIR AO ADORMECIMENTO

Compreensão constante da possibilidade de adormecimento.

Na maioria das vezes, cair no sono enquanto se está na FASE, pode ser superado por uma consciência constante de que o sono é possível e prejudicial para uma FASE contínua. O praticante deve sempre considerar a probabilidade de cair no sono e as ações devem ser cuidadosamente analisadas, para garantir que elas sejam baseadas em desejos reais e não em noções paradoxais, que são comuns aos sonhos.

Análise periódica da consciência

Fazer periodicamente a pergunta “Eu estou sonhando?” enquanto se está na FASE, ajuda a avaliar as situações e a qualidade das ações a serem realizadas a qualquer momento. Se tudo atende aos padrões de consciência plena de FASE, então pode ser dado continuidade às ações. Este questionado feito com regularidade torna-se hábito, automaticamente utilizado durante a transição para o estado de FASE. Se o praticante continuar fazendo esta pergunta regularmente, mais cedo ou mais tarde, ela surgirá automaticamente no momento da transição para um sonho.

A freqüência do questionamento deve ser baseada na capacidade do praticante em permanecer na FASE de forma consistente. Se uma FASE dura geralmente de 5 a 10 minutos ou mais, não é necessário fazer a pergunta mais que uma vez a cada 2 minutos, caso contrário, essa questão tem que ser feita com mais freqüência, uma vez por minuto, ou até menos.

Há uma outra regra importante relacionada com a resistência ao adormecimento: o praticante não deve se envolver ou participar de eventos espontâneos que ocorrem na FASE. Eventos que não são planejados podem resultar em uma perda da consciência da FASE.

TÉCNICAS CONTRA O NÃO RECONHECIMENTO DE UMA FASE

Uma vez que as técnicas existentes para se de testar o final de uma FASE pareçam um pouco absurdas e demandem uma atenção para certas ações adicionais, elas só devem ser utilizadas nos casos em que sejam realmente necessárias. Então, deve-se simplesmente gravá-las na mente e usá-las apenas nos momentos de dúvida. Os mesmos métodos utilizados para entrar, também podem ser usados para determinar com segurança se o praticante está na FASE.

Hiper-concentração

Sabendo que a finalização da experiência de FASE pode ser simulada e, não é diferente em termos de percepção, de uma saída real, as diferenças entre o mundo físico e o ambiente FASE devem ser ativamente discernidas. Em outras palavras, o praticante deve saber como determinar se ocorreu uma saída genuína da FASE.

Atualmente, só se conhece um experimento que garante um resultado preciso. O espaço de FASE não suporta uma atenção visual muito prolongada nos mínimos detalhes dos objetos. Após alguns segundos de exame detalhado, formas começam a ficar distorcidas, objetos mudam de cor, produzem fumaça, derretem ou se transformam de outras maneiras.

Depois de sair da FASE, olhe para um pequeno objeto a uma distância de 10 a 15 centímetros, e mantenha o foco sobre ele por 10 segundos. Se o objeto não mudar, o praticante pode ter certeza de que o ambiente é a realidade. Se um objeto ficar, de alguma forma, distorcido ou torto, o praticante sabe que a FASE está intacta. A opção mais simples é olhar para a ponta do dedo, uma vez que está sempre à mão. Também é possível pegar um livro e examinar seu texto. Um texto, na FASE, aparece desfocado ou cheio de símbolos incompreensíveis.

Técnicas auxiliares

Há uma variedade de outros procedimentos para testar a ocorrência de um retorno espontâneo. No entanto, como qualquer situação, qualquer propriedade, ou qualquer função pode ser simulada na FASE, estes procedimentos nem sempre são aplicáveis. Por exemplo: alguns sugerem que é suficiente tentar fazer algo que é realisticamente impossível, e, se o praticante está na FASE, a ação impossível será possível. O problema com esta sugestão é que as leis do mundo físico podem ser simuladas na FASE, assim, voar, passar por paredes ou telecinesia, podem não ser possíveis, mesmo na FASE mais profunda. Também tem sido sugerido que, olhar para um relógio duas vezes seguidas pode ajudar o praticante a determinar se a FASE está ou não intacta. Supostamente, o relógio irá exibir um horário diferente cada vez que é observado. Aqui, novamente, o mostrador do relógio pode não mudar na FASE.

De todos os procedimentos auxiliares, um merece destaque, e funciona na maioria dos casos: buscar, nos arredores do espaço da FASE, diferenças em relação à realidade. Embora o ambiente ao qual o praticante está habituado possa na FASE ser 100% simulado com precisão, isso é muito raro. Portanto, é possível descobrir se uma FASE está intacta, examinando cuidadosamente o espaço onde tudo está acontecendo. Na FASE, haverá algo extra, ou então, ausente. Por exemplo: a hora do dia ou a estação do ano será diferente da realidade, e assim por diante. Por exemplo: quando se verifica a ocorrência de um retorno espontâneo, na sala pode estar faltando a mesa que suporta o aparelho de televisão, ou a mesa pode até estar lá, mas ser de uma cor diferente.

REGRAS GERAIS PARA A MANUTENÇÃO

As regras para a manutenção, enfocam a resistência a todos ou a maioria dos problemas que possam causar o fim da FASE. Algumas dessas regras são capazes de aumentar em muitas vezes o tempo de permanência na FASE, e devem ser seguidas.

O praticante não deve olhar à distância. Se os objetos distantes forem observados por um longo período de tempo, um retorno espontâneo poderá ocorrer, ou o praticante poderá ser translocado em direção à esses objetos. Para conseguir olhar objetos distantes sem problemas, o praticante tem que empregar técnicas de manutenção. Por exemplo: de vez em quando o praticante deve olhar para suas mãos, esfregá-las uma contra outra, ou manter fortes vibrações.

Atividade constante. Sob nenhuma circunstância o praticante deve permanecer passivo e calmo na FASE. Quanto mais ações forem realizadas, mais duradoura será a FASE. Da mesma forma que, quanto menos ações forem realizadas, menos duradoura será a FASE. Fazer uma pausa para reflexão é o suficiente para que tudo pare.

Plano de ação. Deve haver um plano claro de ação que consista de pelo menos 5 tarefas, a serem realizadas na FASE, na primeira oportunidade que houver. Isso é necessário por várias razões importantes. Primeiro: O praticante não deve fazer uma pausa na FASE para pensar sobre “o que fazer a seguir”, pois isso freqüentemente resulta em um retorno espontâneo. Segundo: Tendo um plano, o praticante irá, subconscientemente, executar todas as ações necessárias para se manter na FASE e realizar todas as tarefas que foram planejadas. Terceiro: Ações inteligentes e pré-planejadas permitem um avanço específico das ações intencionais, contra o desperdício de experiências na FASE, ao fazer o que lhe vier à mente num determinado momento. Quarto: Um plano de ação cria a motivação necessária e, conseqüentemente, uma forte intenção para se executar as técnicas de entrada na FASE.

Cessar o diálogo interno. Quanto menor for o diálogo interno e a reflexão que ocorre na FASE, mais duradoura ela será. Todo o pensamento deve ser concentrado no que está sendo alcançado e percebido. Falar consigo mesmo é totalmente proibido. A razão para isto é que, muitos pensamentos podem agir como programação para FASE e podem introduzir alterações, inclusive negativas. Por exemplo: pensar a respeito do corpo pode causar um retorno a ele. O praticante pode também se perder nos pensamentos, o que levará a um retorno espontâneo. Além disso, pensamentos esporádicos podem, com bastante facilidade, fazer com que o praticante simplesmente adormeça.

O praticante deve tentar uma reentrada na FASE depois de experimentar um retorno espontâneo. Lembre-se sempre, que uma experiência típica de FASE, consiste da repetição de várias entradas e saídas. Essencialmente, na maioria dos casos, é possível reentrar na FASE através do uso de técnicas de separação ou de criação do estado de FASE, imediatamente após o retorno ao corpo. Quando o praticante acaba de deixar uma FASE, o cérebro ainda está próximo dela, e, neste momento, técnicas apropriadas podem ser aplicadas a fim de dar continuidade à jornada.