Aprofundamento

O CONCEITO DE APROFUNDAMENTO

Aprofundamento se refere a técnicas que induzem à percepção realista e à consciência no estado de FASE.

A FASE não é um estado exato e fixo, onde um praticante está ou não presente. É uma esfera de estados caracterizados por uma transição, da percepção normal do corpo físico para uma completa alienação do mesmo, mantendo a consciência e a realidade da percepção, ainda que em um espaço diferente. A transição começa com a percepção do corpo físico natural, seguido por um momento de ambigüidade, onde uma experiência clara do corpo é misturada com o sentido do corpo percebido. Depois, o corpo percebido entra no espaço da FASE, enquanto o corpo físico torna-se apenas uma memória. Nesse ponto, os sentidos percebidos podem estar bastante embaçados. Por exemplo: a visão pode estar borrada ou completamente ausente. As técnicas de aprofundamento resolvem o problema da diminuição ou ausência de percepção sensorial na FASE.

As experiências sensoriais que ocorrem dentro de uma experiência de FASE plenamente realizada, parecem tão reais quanto as sentidas na realidade cotidiana. Em quase metade dos casos, os praticantes observam que, a realidade observada no estado de vigília, parece pálida se comparada com as cores e os detalhes vibrantes observados no espaço de FASE. Para alcançar este objetivo, após entrar na FASE, o praticante deve executar técnicas de aprofundamento para aumentar e solidificar o grau e a qualidade da realidade da FASE.

Clareza de Percepção e o Espaço da FASE nos Vários Estágios de Profundidade

A percepção espacial completa na FASE só ocorre após as técnicas de aprofundamento terem sido aplicadas. Não há nenhum sentido em se manter na FASE sem aprofundamento. Por exemplo: qual é o sentido que existe em encontrar uma pessoa na FASE e não poder reconhecê-la com seus próprios olhos?

Em um número considerável de casos, o aprofundamento não é necessário, haja vista que a experiência de FASE esteja sendo sentida de forma completamente realista, se não hiper-realista. Em casos como esses, o aprofundamento pode ser ignorado.

O aprofundamento também está diretamente relacionado com a quantidade de tempo que o praticante pode permanecer na FASE. Se uma atitude é tomada sem que a FASE seja profunda e realista, a experiência será sempre, várias vezes, mais curta em duração, se comparada com uma FASE na qual foram aplicadas as técnicas de aprofundamento. As propriedades do espaço da FASE dependem em muito de sua profundidade. Quando os arredores do ambiente da FASE estão borrados, a estabilidade dos objetos fica muito fraca.

Existe uma correlação direta entre o realismo de uma FASE e o nível de consciência de um praticante, por isso, é extremamente importante assegurar uma FASE profunda, a fim de se ter o máximo de consciência possível.

Fato interessante!

O realismo de um espaço de FASE profundo é, muitas vezes, tão grande, que pode causar medo.

O aprofundamento deve ser realizado somente após a separação completa do corpo. Se o aprofundamento for iniciado antes da separação, a FASE pode acabar prematuramente. Se a separação completa não tiver ocorrido, técnicas iniciais de aprofundamento devem ser utilizadas. No que diz respeito às técnicas de aprofundamento, há uma principal e existem várias secundárias. A técnica principal, que não apresenta qualquer dificuldade, é suficiente para se ter uma prática bem sucedida.

Fato interessante!

O desconhecimento das técnicas de aprofundamento gerou um grande número de teorias infundadas e superstições. Algumas praticantes tratam as profundidades diferentes das FASES como vários estados e até mesmo vários mundos. Na realidade, existem ações simples que garantem uma experiência singular de FASE.

TÉCNICAS PRIMÁRIAS DE APROFUNDAMENTO

O objetivo do aprofundamento primário é conseguir a separação completa do corpo, permitindo que outras ações sejam realizadas dentro da FASE. O aprofundamento primário implica em alcançar dois objetivos principais: separação completa do corpo físico e a ancoragem do corpo percebido dentro do espaço de FASE.

Quando a separação do corpo ocorre através do uso de uma técnica de separação, a postura que deve ser assumida difere completamente da postura real do corpo físico. Quanto maior o grau de similaridade postural entre o corpo físico e o corpo percebido, mais superficial e breve será a FASE. Por exemplo: no caso de levitação horizontal, um giro de 180 graus deve ser imediatamente executado, com os braços e pernas abertas, adotando uma postura vertical. Sob nenhuma circunstância o praticante deve permanecer na FASE em uma postura idêntica à do corpo físico.

Se, após a separação, o praticante for puxado para trás em direção ao corpo, a ancoragem deve ser iniciada, o que facilita ficar em pé ou sentado na FASE. Resistir à uma sensação parecida com a atração da gravidade sobre o corpo físico, é fundamental para o restante da FASE. O resultado da resistência obstinada é diretamente proporcional ao grau de esforço aplicado. É de grande ajuda agarrar objetos que nos rodeiam e manter-se preso a eles. Qualquer meio de ancoragem do corpo percebido dentro da FASE é adequado. É possível começar a rodar em torno de um eixo, não basta imaginar a rotação, se faz necessário também realizá-la com o corpo percebido.

APROFUNDAMENTO ATRAVÉS DA AMPLIFICAÇÃO SENSORIAL

Quanto mais uma FASE for percebida através das faculdades sensoriais, mais profunda e longa será. A amplificação sensorial na FASE é a técnica de aprofundamento mais eficaz, precisamente porque permite a ativação das sensações primárias internas, durante a transição da realidade para a FASE. Existem várias maneiras para realizar a amplificação sensorial.

A palpação é a primeira técnica de aprofundamento que deve ser lembrada ao entrar na FASE.

A visão pode estar ausente no início da FASE, mas a sensação de ocupar um espaço definido, quase sempre está presente. No caso de uma completa ausência do sentido da visão, apenas a percepção tátil (cinestésica) é possível. O movimento ao longo de um espaço e o toque em objetos, podem ser as únicas opções quando a visão está ausente. O sentido do tato desempenha um papel fundamental na percepção da realidade cotidiana. Assim, se o sentido do tato for usado ativamente no espaço de FASE, é natural que a FASE irá aprofundar-se e atingir seu potencial máximo.

A palpação deve ser realizada tocando-se fugazmente em qualquer coisa que puder ser encontrada nas imediações. Isto deve ser feito de forma rápida, porém, cuidadosamente, através da percepção das sensação das superfícies e formas. As mãos não devem permanecer em um determinado lugar por mais que um segundo, devem sim, manter-se constantemente em movimento para que localizem novos objetos. O objetivo da palpação é aprender algo sobre os objetos ou formas encontradas. Por exemplo: se o praticante sente uma caneca, deve tocar não só seu exterior, mas também seu interior. Uma vez que o praticante tenha rolado para fora do corpo, a cama pode ser tocada, o corpo físico deitado na cama também pode ser tocado, bem como o piso, o carpete, as paredes próximas, ou uma mesinha de cabeceira (um criado-mudo).

Outra técnica de palpação é realizada esfregando-se as palmas das mãos, uma contra a outra, como se estivesse tentando aquecê-las em um dia frio. Soprar nas palmas das mãos também produz sensações que ajudam a aprofundar a FASE. Considerando que a percepção tátil do mundo não é limitada às palmas, as mãos devem ser movidas por todo o corpo para excitar e ativar completamente o sentido do tato.

Tão logo a palpação começa, a sensação de que a FASE está se aprofundando e tornando-se fixa é constatada. Normalmente, leva-se de 5 a 10 segundos para que os exercícios de palpação atinjam o nível máximo de aprofundamento. Ao realizar essa técnica, as sensações pseudo-físicas serão indistinguíveis das vivenciadas na realidade cotidiana. Se a visão estiver ausente no momento da entrada na FASE, rapidamente surgirá durante a palpação.

O “Exame Visual Minucioso” é a principal variação da técnica de amplificação sensorial, no entanto, nem sempre essa técnica está inicialmente acessível, uma vez que requer a visão, que pode começar ausente na FASE. Uma vez que a visão tenha aparecido, ou que tenha sido criada usando técnicas especiais (ver Capítulo 8), o exame visual minucioso pode começar. A eficácia desta técnica se origina no fato de que a visão é o principal instrumento humano de percepção. Portanto, excitando-se a visão para seu potencial máximo dentro da FASE, é possível atingir um estado de total imersão, que é um estado completamente à parte da realidade normal.

O exame visual minucioso dos objetos na FASE deve ser feito a uma distância de 10 a 15 centímetros. O praticante deve examinar visualmente os mínimos detalhes dos objetos e superfícies, para trazer mais definição ao espaço da FASE, enquanto aumenta a qualidade da visão. Ao olhar para as mãos, as linhas da palma, ou as unhas e cutículas devem ser examinadas. Ao observar uma parede, estude a textura do papel de parede. Ao olhar para uma caneca, o praticante deve olhar atentamente para sua alça, a curva de sua borda, ou quaisquer inscrições. A atenção não deve permanecer em uma área de um objeto por mais que meio segundo. O exame visual minucioso deve constantemente passar para novos objetos e suas minúcias, aproximando-se dos objetos ou pegando-os para trazê-los mais para perto. É melhor quando os objetos estão próximos uns dos outros, caso contrário, muito tempo é gasto movendo-se ao redor.

O exame visual minucioso traz resultados rápidos e claros. Geralmente, se a visão ficar embaçada e houver um anseio para retornar ao corpo físico, com apenas 3 a 10 segundos de exame visual minucioso, tudo isso terá desaparecido sem deixar vestígios. Depois de fazer um exame visual minucioso, a visão se ajusta tão depressa e claramente quanto uma lente de câmera instalada corretamente na frente dos olhos, capturando a imagem com o foco mais nítido possível.

Simultaneamente, o exame visual minucioso e a palpação, fornecem o máximo efeito de aprofundamento possível na FASE. Este método de amplificação sensorial envolve os dois sentidos mais importantes, assim, o efeito é duas vezes maior do que quando as duas ações são realizadas separadamente. Se a visão estiver presente na FASE, o exame visual minucioso e a palpação, realizadas de forma simultânea, é uma necessidade absoluta, porque facilita um bom aprofundamento na FASE, da forma mais simples e rápida.

A combinação da palpação com o exame visual minucioso, não só deve ser realizada simultaneamente, mas também sobre os mesmos objetos. Por exemplo: enquanto o praticante olha para as próprias mãos, pode, simultaneamente, esfregá-las uma contra a outra; enquanto olha para uma caneca de café, todas as suas partes devem ser observadas e tocadas, ao mesmo tempo. É necessário manter o dinamismo da ação, lembrando que os sentimentos não devem ser experimentados sem entusiasmo. A concentração total na amplificação sensorial é um excelente meio para se alcançar uma FASE profunda e de qualidade.

TÉCNICAS SECUNDÁRIAS DE APROFUNDAMENTO

Mergulhando de cabeça

O mergulho de cabeça é usado quando as técnicas de amplificação sensorial não funcionam, ou quando o praticante encontra-se na FASE em um espaço indefinido, onde não há nada que possa ser olhado ou tocado. Esta técnica funciona graças às sensações vestibulares incomuns que ela provoca, que ajudam a melhorar a percepção. Esta técnica é realizada com os olhos fechados, e o praticante literalmente mergulha de cabeça no chão ou espaço ao redor dos pés. Durante o mergulho para baixo, pode surgir, imediatamente, a sensação do movimento de afastamento do corpo físico, e o mergulho em si será vivenciado como se ele realmente estivesse acontecendo. Simultaneamente, o espaço circundante pode escurecer e tornar-se mais frio. Agitação ou medo também pode aparecer. Depois de 5 a 15 segundos de mergulho, o praticante pode chegar em um lugar indeterminado na FASE ou um beco sem saída, como uma parede. No caso de um beco sem saída, uma técnica de translocação deve ser usada. A translocação pode também ser tentada, se o aprofundamento não ocorrer durante o mergulho, se parar de melhorar a percepção sensorial, ou se um bom grau de realismo já tiver sido alcançado. Uma alternativa para a técnica de translocação: segurar as mãos a uma distância de 10 a 15 centímetros na frente do rosto e tentar observá-las sem abrir os olhos, o que irá mover o praticante aleatoriamente para outro local.

Ao mergulhar de cabeça, não pense sobre o chão; suponha que ele será penetrado. Isto é muito eficaz quando a FASE ainda não alcançou a plenitude de profundidade.

É muito importante tentar afastar-se do corpo enquanto estiver mergulhando. Caso o praticante não proceda dessa forma, o mergulho poderá provocar um retorno ao estado de vigília.

Vibração

Como acontece com a técnica do mergulho de cabeça, a técnica da vibração deve ser usada quando as técnicas de amplificação sensorial não funcionarem, ou quando o praticante estiver localizado em um espaço indefinido na FASE, onde não haja nada o que olhar ou tocar.

Após a separação do corpo ter ocorrido, é normalmente muito fácil criar vibrações; apenas pensando sobre elas, através do tensionamento do cérebro, ou pelo tensionamento do corpo todo sem o uso dos músculos. A ocorrência de vibrações fornece uma oportunidade importante para aprofundar a FASE. Uma vantagem desta técnica é que ela não exige nenhuma ação preliminar e, portanto, pode ser praticada em qualquer momento.

O cérebro deve ser forçado ao máximo possível, o que causam vibrações, que podem ser intensificadas e controladas através de esforço espasmódico ou prolongado. Se esta técnica não produzir aprofundamento depois de 5 a 10 segundos, ela deverá ser mudada.

Ação agressiva

Esta técnica deve ser usada como uma alternativa a qualquer outra técnica de aprofundamento, uma vez que pode ser utilizada a qualquer momento. A prática desta técnica requer apenas a ação agressiva do corpo percebido. O praticante deve correr, rolar no chão, fazer ginástica, ou mover os braços e pernas. Atividade máxima e agressão são primordiais para o sucesso no uso dessa técnica.

Se o praticante encontrar-se preso em um espaço escuro, agitar os braços e as pernas de lado a lado, será apropriado. Se o praticante estiver na água, nadar com determinação, usando golpes poderosos, será um recurso adequado. O tipo de ação depende muito da situação, juntamente com um desejo agressivo por parte do praticante.

Como regra, o efeito de tais movimentos e relocações, vêm muito rapidamente, especialmente se a atenção estiver focada em todas as sensações que o acompanham.

Imaginar a realidade

Esta técnica deve ser usada por praticantes experientes, ou se todas as outras técnicas de aprofundamento falharem.

O praticante imagina agressivamente estar localizado no mundo físico, e não na FASE, experimentando sua realidade intrínseca de percepção. Isto deve ser feito quando o praticante estiver em um estado de separação do corpo e com o sentido da visão presente. Se bem sucedido, o espaço da FASE imediatamente se tornará mais claro e a percepção sensorial da FASE excederá a experiência normal da realidade.

Se esta técnica não produzir resultados claros depois de alguns segundos, outra técnica deve ser utilizada.

ATIVIDADE GERAL

Todas as técnicas de aprofundamento devem ser praticadas com um alto nível de agressividade, sem pausas, apenas com ação contínua e deliberada. Se as técnicas forem praticadas de uma forma calma e relaxada, as tentativas de aprofundamento, na maioria das vezes, resultarão em adormecimento ou retorno ao corpo.